A RIAMAR, com os seus 60 anos de história dispensa, para muitos, apresentações na área da construção Naval em Portugal.

Fundada em 1964, pelo visionário Manuel Alves Barbosa, foi graças a uma série de felizes coincidências na sua vida que possibilitaram a existência desta Marca.

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Manuel Alves Barbosa

Nascido em 1930 em Águeda, numa família com fortes ligações ao sector automóvel, Manuel Alves Barbosa tinha uma grande paixão pelos automóveis, inclusive pela competição, tendo estado envolvido na criação do primeiro automóvel exclusivamente português, o “ALBA”, sem qualquer ligação pessoal ou profissional à náutica.

Quando cumpriu o serviço militar em Aveiro, onde conheceu a sua mulher e casou, travou conhecimento com diversos entusiastas de um desporto emergente na época na cidade, a Motonáutica.

A nível empresarial, emancipou-se da sua família, continuando ligado ao sector automóvel, por conta própria, em Aveiro. A sua paixão pela competição manteve-o ligado à motonáutica.

Tornou-se Campeão Europeu de Motonáutica da Classe EU, classe rainha na época, nos anos 1961 e 1962.

Era já uma referência na época, a nível Europeu neste desporto, quando foi convidado, em 1964, juntamente com uma comitiva portuguesa, pelo Rei de Marrocos, para uma prova de motonáutica naquele país. Aí teve o primeiro contacto com um protótipo de uma embarcação que viria a definir a sua vida e o seu legado.

O protótipo, apresentado por um entusiasta espanhol, Salvatore Sciacca, tratava-se de uma embarcação de recreio a motor construída totalmente em fibra de vidro, um material muito pouco conhecido na época, principalmente na indústria náutica.

Fascinado pela tecnologia e potencial deste novo método de construção naval, altamente resistente, sem manutenção e com uma versatilidade de inovação e construção em série sem igual, Manuel Alves Barbosa iniciou as negociações que culminaram na criação do estaleiro Barbosa e Sciacca, Lda., em Aveiro, o primeiro estaleiro nacional a produzir embarcações em fibra de vidro e um dos primeiros a nível europeu, surgindo assim a marca RIAMAR – Ducauto.

Tendo como primeiro modelo o protótipo acima referido, mais tarde denominado comercialmente “Acapulco”, juntamente com a visão industrial e comercial de Manuel Alves Barbosa, o estaleiro iniciou a sua produção com o objetivo de se instalar não só no mercado nacional, como também de exportar para as colónias portuguesas na época e para o mercado espanhol.

No final dos anos 60, a RIAMAR, juntamente com a conhecida empresa de caravanas Vimara, criou a primeira exposição do sector, unindo a náutica e o campismo no Pavilhão das Diversões Naúticas/Restaurante Espelho d´Água, em Belém, que levaria mais tarde à fundação pelas mesmas empresas na FIL da NAUTICAMPO, uma referência para a náutica de recreio, tendo sido realizada a sua 51.ª edição em 2020.

No inicio dos anos 70, a sociedade desfez-se, ficando Manuel Alves Barbosa com o controlo total da empresa. A consolidação da empresa e da marca foi atingida através do reconhecimento das vantagens da fibra de vidro, da qualidade de construção e da criação de novos modelos adaptados às necessidades do mercado, com o domínio quase exclusivo do mercado nacional e das Colónias Portuguesas na época, mantendo no entanto um forte rácio de exportação, principalmente para o mercado espanhol e alemão, tendo inclusive participado por diversas vezes no emblemático salão Boot Dusseldorf – Salão Náutico de Dusseldorf, ainda hoje considerado o salão de referência nível europeu.

Durante este período, como piloto de motonáutica, desporto altamente mediatizado na época, utilizou a sua equipa de competição para promover o nome da marca, tanto a nível nacional, como internacional, dando um impulso considerável ao seu crescimento.

Com a revolução de Abril de 1974, a empresa teve o seu maior revés. As embarcações de recreio passaram a ser consideradas um bem de luxo, as classes com maior poder económico começaram a ser fustigadas, a guerra colonial intensificou-se bem como a dificuldade em exportar bens desta natureza, levando à quebra, quase na totalidade, das vendas.

No entanto, a RIAMAR reinventou-se para aguentar a crise, produzindo outros produtos como caixotes do lixo e quiosques, nunca despedindo qualquer funcionário, continuando ao mesmo tempo com a produção de embarcações para stock a ritmo semelhante, acreditando que o país iria estabilizar e teria produto pronto para oferecer nessa altura.

A estabilidade demorou a chegar e foi em 1976 que Manuel Alves Barbosa, com o diretor comercial da empresa, Carlos Mendes, que, num camião carregado de barcos, argumentando serem usados, conseguiu passar a fronteira. Correram a Europa à descoberta de empresas náuticas interessadas nos seus barcos, ficando os mesmos nos diversos locais para venda e marketing. Assim, se construiu uma rede de agentes na Europa, espalhados por Espanha, França, Bélgica, Holanda, Alemanha e Inglaterra.

Com a estabilização do país e a rede de agentes externos criada, a empresa começou novamente a crescer. Com produto acabado para entrega imediata, refez a rede de agentes nacional, enquanto surgiam algumas empresas concorrentes, mas sem dimensão nem produto para competir. Foi aqui que a RIAMAR voltou a dominar o mercado nacional, então com uma componente de exportação mais forte.

A RIAMAR lançou toda uma nova gama de modelos, de acordo com os padrões de design da época, tendo tido necessidade de se instalar em 3 unidades fabris, duas em Aveiro e uma no Carregado, bem como uma loja náutica em Lisboa, servindo de entreposto para a zona sul, juntamente com a fábrica no Carregado. Com cerca de 120 funcionários, a empresa atingiu o seu recorde de produção de 1.200 barcos por ano no final dos anos 80, nunca descendo nessa década das 700 unidades anuais.

Em meados dos anos 90, a empresa voltou a entrar em sérias dificuldades, chegando quase à rutura. Para tal, contou a abertura das fronteiras e a invasão do mercado com barcos franceses e americanos, através de agentes fortes em Portugal. A isto acresceu o design desatualizado dos modelos e más decisões de gestão na empresa.

Nunca parando de produzir e já com sócios investidores, no final dos anos 90, a empresa foi redimensionada e focada na produção de novos modelos, para a pesca profissional, e na exportação, principalmente para Angola, ficando o recreio em segundo plano, exportando cerca de 70% da sua produção.

Em 2012, correndo sérios riscos de desaparecer definitivamente, devido à idade de Manuel Alves Barbosa e da crise económica instalada, a RIAMAR reinventa-se mais uma vez. Manuel Cálão, genro e Francisco Cálão, neto do fundador, abraçam um projeto com a marca através da criação da empresa Nautav, Lda, em 2012.

Esta empresa é criada com o intuito de dar continuidade ao legado da marca, um pouco esquecida no mercado nacional e com diversas lacunas a colmatar, apesar de deter uma imagem de qualidade inabalável e um histórico de modelos com excelente navegabilidade.

Assim começou uma nova jornada da marca até aos dias de hoje, mantendo alguns modelos com reestruturações completas, inovando ao nível da construção e dos acabamentos, bem como na criação de alguns modelos novos, em linha com as atuais tecnologias existentes na construção naval, em fibra de vidro. Recomeçando em plena crise, instalada agora numa pequena fábrica em Ílhavo, a empresa fez um trabalho árduo, passando por algumas dificuldades, na recuperação do nome da RIAMAR e na reconquista lenta do mercado nacional, como base segura, enquanto mantinha o mercado de exportação existente.

Até 2016, foi criada uma rede de agentes forte, em Portugal, aliada à parceria existente com a marca de motores fora de borda Yamaha, coincidindo com uma forte quebra na exportação, implementando novamente a RIAMAR como referência da construção naval em Portugal e a sua imagem de qualidade no sector.

O crescimento, aliado, também, à recuperação económica, manteve-se forte e, em 2019, a empresa sentiu a necessidade de construir novas instalações, localizadas na Zona Industrial da Mota em Ílhavo. Mantendo a unidade fabril existente, agora exclusiva para a produção bruta de fibra, as novas instalações possibilitaram um aumento de produção considerável, onde são efetuadas as montagens e acabamentos finais das embarcações.

Esta nova unidade permitiu, também, abraçar outros projetos ligados ao sector, como a distribuição, em Portugal, de marcas como a Flexiteek (líder mundial em convés de teca sintética) e a MonsterTower (torres e acessórios de wakeboard e ski), entre outras.

No entanto, a maior conquista da Nautav, Lda foi o reforço da parceria de construtor com a Yamaha Marine, para concessionário e serviço autorizado da marca. Com um showroom construído de raiz, com a identidade visual da Yamaha e da RIAMAR, e um espaço dedicado exclusivamente ao serviço autorizado, permitiu a empresa abraçar um mercado novo de venda de unidades, peças, acessórios e serviço a motores fora de borda e motas de água Yamaha no País, mas também com uma forte componente de exportação.

O aumento da produção permitiu à empresa focar-se novamente nos mercados externos, tendo, em 2020, já exportado cerca de 50% das unidades fabricadas.

Neste momento estamos a desenvolver novos modelos da RIAMAR, em parceria com o Departamento de Engenharia Mecânica e o Design Studio, da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, projeto liderado pelo Professor Doutor Augusto Barata da Rocha.

Estes modelos, que pretendem conjugar linhas vanguardistas com o design retro dos primeiros modelos da RIAMAR, aliados à mais avançada tecnologia de construção naval existente, tanto ao nível da qualidade do produto, como da redução do peso e dos custos de produção, têm a data prevista de apresentação de um primeiro modelo, para Janeiro de 2024.

Esta será a forma de assinalar a primeira presença da RIAMAR no “Boot Dusseldorf – Salão Náutico de Dusseldorf, passados 60 anos.

Simultaneamente, servirá para a Nautav reforçar a sua posição no mercado nacional, retornar em força aos mercados mais exigentes da Europa e criar uma nova rede de agentes nos mesmos.

Com 92 anos, Manuel Alves Barbosa continua hoje a acompanhar a continuidade da sua obra, já na terceira geração da família, com orgulho e com a garantia de que o seu legado perdurará por muitos anos. 

A RIAMAR honra-se do seu passado pioneiro na Europa, compromete-se no presente com os seus clientes, projetando o futuro com os mais elevados padrões de qualidade, segurança, inovação e fidelidade com os seus clientes.